Nas noites cintilantes em que o silêncio sonoro deste lugar
me envolve, vou crescendo. Vou aprendendo a cada dia a contemplar este território
inigualável, a conhecer as novas cores deste arco íris que é a vida. Esta
paisagem é diferente de todas aquelas que alguma vez tive hipótese de
vislumbrar. Esta ausência de som confere-lhe uma mística incomparável, que poucos
conseguiram apreciar. É este o céu dos sonhos que me consomem, que, pela sua
imponência o intelecto não apaga? Será talvez a distância do meu Oeste
iluminado.
Sou em estado puro a cada passo em direcção ao abismo, a
cada frase que gravo nesta folha de papel perdido, a cada ideia que condenso num
texto simples, mas complexo. Vou sendo tudo aquilo que a minha mão quiser que
seja. Posso ser triste, alegre, depressiva ou histérica, somente seguindo o
fluxo desta caneta que liga este cérebro a esta folha incoerente.
Vou sendo com a vontade de ser o orgulho dos que estão aqui
e daqueles que deixei no meu paraíso. Também daqueles que já estão juntos do
outro lado à nossa espera.
Sou diferente daquela que deixou um paraíso luso para trás,
infiel ao egoísmo, mais astuta que outrora. Abrindo os olhos para a verdadeira essência
do ser humano, fiel aos que nunca me viraram as costas.
Por eles um dia me levantei, por eles vou levantando a
cabeça e avançado, mesmo que alguns passos custem a dar, eu sei que a cada
queda estão do meu lado. Se não tivesse vencido, se tudo não tivesse passado de
fracassos, eu sei que as vossas palavras iam levantar-me de novo, como todas as
outras vezes.
Com vocês e por vocês vou sendo. Seguindo orgulhosamente
fiel ao líquido que me corre nas veias.