Que este momento dure para sempre, que as lágrimas que
derramo a cada adeus sejam fruto do meu sucesso, e não do meu regresso sem
partida. Que este meu eldorado permaneça intocável, onde mesmo sendo vista como
estrangeira, saberei que aqui estou realmente em casa, aqui está a parte mais
bonita da minha existência, ao mesmo tempo a dor colossal e mais verdadeira. Emigrantes
seremos muitos, mas digam-me quantos realmente aprenderam a amar um país, uma
cultura, uma língua tão resplandecente como a nossa? Digam-me quantos
escolheram a nossa língua como meio de especialização, tornando-se num
quimérico embaixador de um idioma. Não me julguem como sendo vítima de um
egocentrismo nacionalista assaz exacerbado, mas como uma mera defensora daquilo
que lhe pertence, nunca por obrigação, mas por um concreto direito obviamente
irrefutável. Nasci pequena, com uma pronúncia característica da região que me
fez gente, com o dialecto da vila que me fez mulher. Sinto falta daquele
cantinho ermo onde a mesquinhez era constante, mas sei que aquele território
sempre será meu, e lá sim é o meu Portugal.