01/03/16

#7

"Porra, tenho de ir comprar folhas" - diz Lorenzo, enquanto tira um filtro do pacote. 

Enrola tranquilamente o seu cigarro enquanto no outro lado do mundo uma criança chora a morte de alguém, ao mesmo tempo que guerras e ditadores aniquilam silenciosamente aqueles que os condenam, enquanto a nossa vida é controlada pelo estado da nação, enquanto muitos que gostariam de ficar tiveram de partir, no mesmo instante em que se ouve uma bala dirigida a alguém. 

Saindo do metro, Lorenzo acende o cigarro no caminho para casa, e nesse instante, a poucos metros dele, um suicídio na via pública, mais um para juntar aos muitos que acontecem diariamente, não adianta questionar as razões, o fundamental é tentar perceber o porquê. 
Abalado, saí do local ansioso de voltar para o abrigo da sua casa, esperando que nada de mais aconteça naquele dia. Mas aconteceu. Ainda que não tenha sido a ele, mas a alguém terá seguramente recebido a visita do azar, alguém que parte sem se despedir, uns que nascem em segredo, outros que estão deitados no chão ao lado da mãe. 

Nesta vida um instante pode mudar a tua vida, do nada o que era tudo passa a valer pouco, por isso de que vale pensares que amanhã podes não acordar, pois muitas vezes viver é um verbo que nem todos conhecem, pois muitos já se limitam a conhecer o verbo sobreviver.