17/01/15

Uma folha perdida

Gosto de escrever cartas. Gosto simplesmente de escrever. Do deslizar ritmado da caneta no papel. Da soberba alegria de ler o que da minha mente saiu, mesmo que por vezes o que esteja no papel não parece ter sido escrito pela mão trémula que vai sendo guiada pelo roteiro da vida.
A vida nas suas incongruências celestiais.
Escrever e não acreditar no que foi escrito. Parece louco, mas a vida peca por defeito de coerência. E sem perceber, mais uma página se encheu, mais um tumulto da alma que ficou agarrado a um papel. 
Procuro ter sempre uma folha de papel comigo, não vá a tempestade perder-se nos meandros dos meus pensamentos. Pois penso em tudo, ao não pensar em nada, e muitas vezes grandes ideias foram condenadas ao absoluto esquecimento porque não tinham um berço pronto a acolher estas pueris divagações de quem pouco sabe da vida. Apesar de já a conhecer o suficiente. 
Num vendaval, o nosso natural instinto de sobrevivência faz-nos agarrar a pequenas coisas. A prender-nos a algo para salvar a vida. E eu agarrada a uma folha de papel perdido. Tão perdido quanto eu? Não sei, só há uma coisa em que acredito piamente. Acredito que gosto de encontrar uma folha perdida ao acaso no fundo da minha mala e de nela debitar palavras. Palavras com história, ideias sem rumo. Contudo eu gosto de escrever, sobre tudo e para todos. Principalmente cartas. Como eu gosto de escrever cartas...