12/09/15

#6

Com uma palavra relembro momentos que marcaram o que fui, o que ainda continuo a ser, pois esta viagem está longe de se concluir. Que o caminho prossiga triunfante. Sendo os pequenos nadas as maiores vitórias possíveis. Pois quem esteve no fundo sabe como cada pedaço de luz é fundamental. Vou continuando a alimentar o meu coração de bons sentimentos, pois os nefastos já estão mais que presentes, para que o meu intelecto não desista de mim. Para poder avançar nesta estrada, onde o pouco vale muito, e o muito deixou de interessar.

05/08/15

#5

Continuo divagando pelas ondas do destino, tropeçando a cada falha desta longa estrada em que vou caminhado. Vou conhecendo novos horizontes, novas cores vão preenchendo esta tela que outrora era dominada pelas trevas. Se tudo terminasse hoje, iria feliz, incompleta, mas feliz, pois cada pequena vitória contribuiu para alcançar os objectivos que tantos julgaram ser meros devaneios de adolescente rebelde.

Hoje quem me viu no fundo reconhece que renasci das cinzas e virei costas ao que me matava aos poucos e poucos. A batalha está longe de estar vencida, porém o caminho a percorrer já foi mais longo.

Desistir? Sim, houve momentos em que pensei em abandonar tudo e regressar à vida de outrora mesmo sabendo que isso não seria possível porque já não sou a mesma, deixei de encarar a vida com o fatalismo de outros tempos, abri de novo a porta aos sentimentos, mas sobretudo ganhei coragem para enfrentar todo o mal que havia em mim, todo o mal que havia naquele mundo que deixei para trás. Há dias em que não é fácil suportar a rotina e os sentimentos de outros tempos voltam a invadir o meu peito, e os meus olhos voltam a escurecer de dor. E quando penso em desistir olho para as estrelas e busco conforto na luz dos que nos deixaram para iluminar a escuridão daqueles dias.

Abdiquei de muita coisa para poder atingir os meus objetivos, ainda assim sei que tudo o que perdi e o que se foi perdendo só me mostrou quem vale a pena confiar, pois só quem me viu no chão merecerá estar a meu lado quando chegar ao topo e ganhar a batalha mais importante da minha vida.

20/05/15

Noites

Eu sinto a solidão do meu coração. Sinto com a ansiedade de uma primeira vez. Vejo o mundo e sinto-me diminuta. Com este coração paralisado pela primeira vez. Tudo se move e eu vou observando, sem forças para avançar. 
Não julgo que este seja um estado desagradável, o meu coração suportou bem mais, como um Viriato destemido, este é um estado de aprendizagem, coisa tão rara, que se torna prazerosa. Estou perdida, mas aprecio este estado, o desconhecimento sempre nos apresenta algo de novo. 
E eu só quero aprender, pois sei que ao parar, a minha alma vai perder-se.

25/04/15

#4

Os anos passam depressa. Há uns anos atrás não sabia que rumo dar à minha existência, não via outras cores para além do negro dos meus olhos, que já estando abertos para a vida, tinham perdido o tom castanho de origem. O tempo passa e nós vamos vendo o tempo passar sem saber o que fazer. 
Será que hoje sei o que quero fazer? Muitas das minhas questões não foram respondidas, creio que algumas vou desconhecer eternamente a sua resposta. 

05/04/15

Un jour j'ai pensé à toi.

Um dia lembrei-me que estavas lá. Tudo era cor, tudo era emoção.
Hoje as cores são menos nítidas, a emoção permanece, mas não como dantes, como se tudo não passasse de uma construção, metáfora de algo que não vivi. 
Devo-te o fechar do livro, as cinzas que surgiram após queimá-lo, cinzas que deitei aos primeiros ventos da primavera. Foste realidade, resta agora a nuvem que desapareceu diante dos meus olhos que se perderam a contemplar as nuvens. Foste algo, hoje não és coisa nenhuma.

28/03/15

Não somos todas Lindas de Suza

É verdade, nascemos num país complicado. Belo mas assaz complicado. Os outros povos preferem cercar-nos de clichés, criando uma amálgama, que (tal como todas as amálgamas) é falsa, ao invés de tentarem compreender-nos. 
Não temos pilosidade abundante, muitas de nós nem comem bacalhau, não intercalamos o impropério que nos caracteriza a cada frase. E sobretudo não somos todas porteiras ou empregadas da limpeza. Porém temos um enorme orgulho nessas guerreiras de vassoura na mão e sangue quente nas veias. 
Algumas de nós querem ser enfermeiras, outras professoras, algumas sonham bem alto com um regresso à pátria-mãe.
Poucas de nós, da recente vaga de emigração vieram sem formação, com uma "mala de cartão" e um recém nascido nos braços. Nós trazemos diplomas, mesmo que seja do Ensino Secundário. Trazemos os métodos de trabalho de um país que não nos deixou ficar.
Mas continuamos saudosas, com um laivo de subserviência, com valores que nos são extremamente próximos. E que adoramos partilhar.
Somos portuguesas, o fatum está no nosso código genético mas não somos todas Lindas de Suza. 

07/03/15

#3

Fechar as portas, curar as feridas, coser a sangue frio a carne já tão dura, esse é o passaporte ideal para o futuro. Rindo ou chorando, quiçá deambulando ou perdendo-se pela penumbra, esse olhar tem de se focar no outro lado. A morte é certa, seguramente. 
Porém que ela não te faça sofrer, nem se atreva a fazer-te parar.
Que o sonho não se apague dessa mente, que o amor não te condene a uma frieza colossal, a um mundo sem cor.
Virar as costas é a chave do futuro.

14/02/15

Cap. IV

Um dia perceberás que o mundo perdeu a constância. E a consistência. Que tudo o que era azul se tornou negro como a cor dos teus olhos. Os melodramas vão parecer-te quebra-cabeças para crianças, pois com esse raciocínio voraz vais perceber que cresceste. Que o sal das tuas lágrimas se tornaram acres e a tua voz ácida, como aquele veneno que te toca nos lábios a cada beijo.
Já não és constante, muito menos consistente, perdeu-de a arrogância, veio a distância que te tortura. E o nome que sopras ao ouvido de quem já foi teu. Do que a infância te tirou. Acordaste do sonho, compreendeste a vida. Como a droga que te corre nas veias depreendes que a vida é uma viagem. E tu perdeste-te pelo caminho. Encontra-te. Torna-te coerente, constante e consistente e a tua vida vai ganhar a paz da felicidade. 
A dor? Essa está marcada na tua carne como uma tatuagem, não a perdes e ela não vai desaparecer. Vai crescer. Como tu.

17/01/15

Uma folha perdida

Gosto de escrever cartas. Gosto simplesmente de escrever. Do deslizar ritmado da caneta no papel. Da soberba alegria de ler o que da minha mente saiu, mesmo que por vezes o que esteja no papel não parece ter sido escrito pela mão trémula que vai sendo guiada pelo roteiro da vida.
A vida nas suas incongruências celestiais.
Escrever e não acreditar no que foi escrito. Parece louco, mas a vida peca por defeito de coerência. E sem perceber, mais uma página se encheu, mais um tumulto da alma que ficou agarrado a um papel. 
Procuro ter sempre uma folha de papel comigo, não vá a tempestade perder-se nos meandros dos meus pensamentos. Pois penso em tudo, ao não pensar em nada, e muitas vezes grandes ideias foram condenadas ao absoluto esquecimento porque não tinham um berço pronto a acolher estas pueris divagações de quem pouco sabe da vida. Apesar de já a conhecer o suficiente. 
Num vendaval, o nosso natural instinto de sobrevivência faz-nos agarrar a pequenas coisas. A prender-nos a algo para salvar a vida. E eu agarrada a uma folha de papel perdido. Tão perdido quanto eu? Não sei, só há uma coisa em que acredito piamente. Acredito que gosto de encontrar uma folha perdida ao acaso no fundo da minha mala e de nela debitar palavras. Palavras com história, ideias sem rumo. Contudo eu gosto de escrever, sobre tudo e para todos. Principalmente cartas. Como eu gosto de escrever cartas...