06/12/14

#coraçãolimpo

Hoje acordei com o coração mais limpo que nunca. Não senti o habitual sangue das minhas feridas a massacrar-me a carne. E dos meus olhos não escorregas as lágrimas que me iam purificando a alma. 
Acordei com um novo músculo a trabalhar no peito. Quem sabe se não era este o dia que a minha mente anseava.
 Não acordei diferente, simplesmente acordei. Será que é a simples partida de um amor que nos provoca estás coisas? Não, o amor por si só é algo positivo, contudo quando se esfuma e é substituído pela raiva, esta história muda de perspectiva. 
Por isso,  hoje acordei com o coração mais puro da minha existência. Por mera vontade de seguir em frente ao leme da fragata que conduz o meu sonho.
Acordava chorando, adormecia sorrindo. 
Hoje acordei sorrindo, porém desconheço se adormecerei embalada pelas lágrimas. 

04/12/14

Sendo.

Nas noites cintilantes em que o silêncio sonoro deste lugar me envolve, vou crescendo. Vou aprendendo a cada dia a contemplar este território inigualável, a conhecer as novas cores deste arco íris que é a vida. Esta paisagem é diferente de todas aquelas que alguma vez tive hipótese de vislumbrar. Esta ausência de som confere-lhe uma mística incomparável, que poucos conseguiram apreciar. É este o céu dos sonhos que me consomem, que, pela sua imponência o intelecto não apaga? Será talvez a distância do meu Oeste iluminado.
Sou em estado puro a cada passo em direcção ao abismo, a cada frase que gravo nesta folha de papel perdido, a cada ideia que condenso num texto simples, mas complexo. Vou sendo tudo aquilo que a minha mão quiser que seja. Posso ser triste, alegre, depressiva ou histérica, somente seguindo o fluxo desta caneta que liga este cérebro a esta folha incoerente.
Vou sendo com a vontade de ser o orgulho dos que estão aqui e daqueles que deixei no meu paraíso. Também daqueles que já estão juntos do outro lado à nossa espera.
Sou diferente daquela que deixou um paraíso luso para trás, infiel ao egoísmo, mais astuta que outrora. Abrindo os olhos para a verdadeira essência do ser humano, fiel aos que nunca me viraram as costas.
Por eles um dia me levantei, por eles vou levantando a cabeça e avançado, mesmo que alguns passos custem a dar, eu sei que a cada queda estão do meu lado. Se não tivesse vencido, se tudo não tivesse passado de fracassos, eu sei que as vossas palavras iam levantar-me de novo, como todas as outras vezes.

Com vocês e por vocês vou sendo. Seguindo orgulhosamente fiel ao líquido que me corre nas veias.  

15/11/14

Adeus.

A noite corria alta. O meu coração estava certo que seria a última vez que nos iríamos ver. O teu sorriso, ainda me dói ao lembrar, era a coisa mais bonita que alguma vez tinha visto. 
Mas era sujo, de uma impureza tão grande quanto tu. Terias medo de amar? Ou eu era bem menos do que julgavas? Sim, eu avisei que era diferente. Talvez tenha colocado a nossa história em xeque justamente por te ter revelado semelhante pormenor. 
Logo, foste embora, sem olhar para trás uma derradeira vez, deixando-me com o gosto amargo do nosso último beijo. Ao mesmo tempo que te olhava com a vaga esperança de um recuo, enquanto acontecia o inevitável, uma pedra engolia metade do meu coração. 
Sabes, esta pedra continuará neste meu peito dormente e dorido. Enquanto espero que encontres a tua felicidade, independentemente de não ser ao meu lado. 
Fiquei com a apatia, contudo não te preocupes, ela é minha companheira, é ela que me fez olhar para as palavras que encontrei escritas num papel perdido e sorrir:
  
J'aimerais lui dire que je l'aime. Je voudrais qu'il sache qu'un simple mot de sa part me guerrisait les blessures. Mais ce n'est pas possible. J'ai un défaut capital. L'orgueil. Un des sentiments le plus dangereux chez l'être humain. Avec lui on gagne tout, et on perd autant que ce qu'on a gagné. Et fièrement je t'ai laissé partir. Parce que je sais que j'ai sauvé mon cœur de la suprême douleur de l'amour.

Hoje viro a página desta história que tanto me ensinou, de onde a menina que te conheceu um dia, tornou-se a mulher que te será desconhecida. 

04/10/14

Ce soir

J'aimerais pleurer ce soir. 
Je voudrais profiter de l'effet cathartique des larmes, mais je n'arrive pas. 
Je voudrais condenser ma douleur dans une larme, concentrer ma souffrance dans un soupir. Je n'arrive pas.
J'essaye, mais cet état d'hypothétique joie a effacé ma capacité de pleurer, même si quelqu'un m'a fait du mal, même si mon cœur est brisé ce soir, les larmes n'écoulent pas dans mon visage. 
Mais je souffle encore, je relève la tête, et je donne le prochain pas. 
Peut être qu'un jour mes larmes puissent écouler et faire disparaître cette douleur qu'est en moi aujourd'hui.


O primeiro (de muitos, quem saberá), na língua de Molière. 

19/08/14

#2

Onde estás quando chega a hora? 
A hora do sussurro poético convergir em bela prosa. Tentas ignorar, deixar que aquela compilação de lemas se apague da tua mente. 
Mudas a tua história a cada frase que não exteriorizas, a cada vez que não agarras o caderno e recitas. 
Cada frase que perdes, cada rima que não escreves, é a batalha do teu corpo contra esta escrita que vicia. Que conduz passo a passo para uma vida melhor, o Homem que loucamente canta a noite que o ilumina, conta a história de tantas vidas nas páginas de um caderno, onde vai condensando o resultado da luta eterna, a de deixar tudo na mente, ou marcar para sempre as páginas da sua vida.

18/08/14

#1

Vou deixar esta tristeza no outro lado da porta, a vida é curta, eu em passo rápido, e por mais que o evite, caminho de mãos dadas com o erro. A vida é uma viagem, eu perdi-lhe o rumo, passa como um avião, e eu caminho, mesmo a solo, mas sempre em contra-mão, perdi tanto, ganho pouco, e erro muito, contudo sei que nenhuma escolha foi em vão. 

11/07/14

Sem nexo.

Derramei tantas palavras, 
Nas páginas deste caderno.
Passagens das longas horas, 
Em que vagueava pelo inferno.

Onde somente as palavras 
Eram o abrigo da loucura, 
A lua cheia que iluminava
As minhas noites tão escuras.

06/06/14

Frases avulsas.

No meu quarto tenho uma janela virada para o mundo. A minha vida é uma hora, os meus sonhos vagos segundos.

12/05/14

A solidão a que nos votamos

No silêncio desta estrada vamos conhecendo a solidão, aquela que paralelamente é uma boa companheira, a que escuta, mas também é o teu carrasco, o que te condena à frieza de sentimentos. A estrada parece longa, os obstáculos intransponíveis, mas nós vamos sempre caminhando, fazendo da rotina um aliado, o único escape daquele sofrimento que está dentro de ti.

07/04/14

Serei eu?

Tenho este copo meio cheio de nada
As noites seguem frias, e eu perco-me na madrugada
Quem diria que deste céu se faz a vida
Queria-me sem esta história, sem anseios de partida

Teria menos chance para recolocar esta máscara,
Este tempo? De não passar tornou-se insignificante
E tudo aquilo que me resta é a saudade
De uma dor doente, perturbadora, mas real

Não desta inercia que me mata a cada segundo
Sinto-me em casa, mas será este o meu mundo?
Será a verdadeira razão que fervilha no meu peito?
Será este o real fervor da ausência do defeito?

Queria puder responder à questão.
Se a vida fosse uma história, eu seria a ficção?
Seria o mito do herói falhado, do poeta vencido

Do escritor errado?

23/02/14

Eu não leio livros. Eu vivo-os. Não os devoro. Sinto-os como cada pulsação do meu corpo. E por instantes sinto-me noutra realidade,  sendo actriz numa história que não me pertence mas onde me inseri sorrateiramente.
Se eu não lesse, talvez não escreveria. Se não falasse, quiçá não sentiria todas estas histórias dentro da minha história.

04/02/14

Hiato

A página em branco continua a ser o meu pior drama. Esse e o da falta de capacidade para escrever. Em tempos que já passaram, olhava estes momentos como uma nova forma de puder vir a escrever. De continuar a expressar em palavras aquilo que não vão passando de simples momentos fantasiados pelo meu intelecto. Mas desta vez observo o chão balançar debaixo dos meus pés, o que julgava porto seguro, hoje é um castelo de cartas numa mesa de maus acabamentos, que se vai sustentando, mas balança a cada movimento imprudente. Como um dependente preciso da minha pequena dose de escrita, que nestas ultimas semanas se limitou a escrita elementar para aqueles que estão tão próximos e tão longe. Procuro mais e preciso de mais. Qual será o dia em que este monstro que há dentro de mim vai acordar desta hibernação do hiato?