18/09/13

1 Ano Depois.

À velocidade da luz passou-se o primeiro ano de ausência.  Um ano marcado por muita coisa nova, muita coisa diferente. Toda a minha raiz ficou na minha pátria, mas não me arrependi de partir.
Ainda recordo as lágrimas daquele dia, 15 de setembro de 2012, quando após abraçar a minha mãe e a minha melhor amiga pela última vez, entrei naquele carro vermelho que me conduziu ao aeroporto, e à viagem que certamente mudou a minha vida. Recordo as lágrimas que derramei quando senti o avião descolar da terra, enquanto a minha mente dizia "um dia voltarei para ser feliz".
Lembro-me da emoção dos primeiros dias, da pressão de falar uma língua que não era a minha, de estar num lugar que ainda não julgava meu.
Vou sempre lembrar-me do meu primeiro dia de universidade, da primeira aula, do primeiro contacto com os colegas que se tornaram na minha segunda família. Não fui, nem sou um exemplo de aluna, mas consegui. Facto que me enche do mais puro orgulho.
Neste ano conheci a experiência de adquirir conhecimento em estado puro, conhecimento das áreas que mais me fascinam, que me fizeram perceber que não poderia ter escolhido melhor. Mesmo tendo mudado a opção inicial, é ao bater com a cabeça que se aprende.
Conheci a experiência da entrada no mercado de trabalho.
Conheci pessoas que vão fazer parte da minha existência até ao seu fim, outras em que a passagem foi tão instantânea que não retive qualquer dado.
Neste ano, aprendi muita coisa, conheci-me da melhor maneira possivel, lutei para atingir os objectivos que me tinha proposto, não fracassei.
Sinto todos os dias falta de todos aqueles que deixei, tenho saudades das gargalhadas, dos momentos em que os nadas eram tudo. Dava tudo para vos ter aqui comigo, não um dia, mas todos os dias. Mas não se esqueçam que partir foi uma opção,  não uma obrigação. Sinto a vossa falta, mas aqui sei que sou feliz,  mesmo com todos os problemas.
Um ano depois, a portuguesa mau-feitio, virou estrangeira aos olhos da sua pátria, mas não perdeu a vontade de ser feliz.

25/08/13

Campos de batalha

A dor está nesses olhos que me vêem,
Mártires de uma guerra invisível,.
Uma guerra sangrenta,  e interminável
Mas que te fez crescer com orgulho da tua raça

Com esse coração crivado de balas,
Vermelho sangue no teu olhar,
Vejo-te novamente pegar nas armas,
Repleto de coragem como no primeiro dia

Seremos para sempre companheiros de armada,
Pouco importa morrer se for por nós próprios,
Pouco importa sofrer ao fechar os olhos.

Resta-nos este eterno combate para nos sentirmos poderosos.

15/08/13

One day.

Um dia não serei o que todos esperam. Deixarei emergir toda a luz que assombra o meu olhar, serei aquilo que o meu receio bloqueia, mostrarei a verdadeira face que está por detrás destas linhas. Pensando bem, já passou tanto tempo, já deambulei por entre várias fases, mais ou menos conturbadas.  Períodos onde deixava de escrever, onde deixava de lado esta paixão que me leva todos os dias ao pensamento inoportuno,  à perda de ideias pela simples falta de vontade.  É duro, é difícil,  mas a dificuldade foi sempre aquilo que mais me aliciou. Dizem, bem acertadamente,  que o fruto proibido é o mais apetecido. E é este fruto proibido que me faz escrever, que me faz conjugar palavras cujos sigmificados não fazem sentido, mas cuja união lhes dá a força de subsistirem. Podera ser sofrido, mas não será isso que me fará desistir.

03/08/13

O meu Portugal.

Que este momento dure para sempre, que as lágrimas que derramo a cada adeus sejam fruto do meu sucesso, e não do meu regresso sem partida. Que este meu eldorado permaneça intocável, onde mesmo sendo vista como estrangeira, saberei que aqui estou realmente em casa, aqui está a parte mais bonita da minha existência, ao mesmo tempo a dor colossal e mais verdadeira. Emigrantes seremos muitos, mas digam-me quantos realmente aprenderam a amar um país, uma cultura, uma língua tão resplandecente como a nossa? Digam-me quantos escolheram a nossa língua como meio de especialização, tornando-se num quimérico embaixador de um idioma. Não me julguem como sendo vítima de um egocentrismo nacionalista assaz exacerbado, mas como uma mera defensora daquilo que lhe pertence, nunca por obrigação, mas por um concreto direito obviamente irrefutável. Nasci pequena, com uma pronúncia característica da região que me fez gente, com o dialecto da vila que me fez mulher. Sinto falta daquele cantinho ermo onde a mesquinhez era constante, mas sei que aquele território sempre será meu, e lá sim é o meu Portugal.

18/07/13

"Não te preocupes se eu um dia deixar de te escrever, preocupa-te sim no dia em que me fizeres deixar de preocupar" - DH

30/06/13

Os meus olhos são o espelho dos meus sentimentos, a minha boca o puro reflexo da minha alma. O meu corpo suporta somente o peso de todas as circunstâncias, carrega o semblante negro de tudo o que passou por mim. Anteriormente limitava-me a existir, a deambular entre passos tortuosos, a caminhar em ruas negras como os meus pensamentos, como tudo aquilo que o meu coração reflectia. Actualmente, sorrio a cada instante, abri as portas da luz que ocultava, por sublimes esgares sorridentes. Não esqueci, não deixei de lado todo o mal que inunda o meu ser, apenas aprendi a evitá-lo. Mudei, quiçá cresci. Poderei dizer que compreendi o mistério de viver. Foi duro, foi suficiente o sofrimento para lá chegar. Mas aprendi, e não poderia ter mais orgulho disso.

27/06/13

Orages

Vivemos do lado de cá do espelho,
O lado que sente vibra, vive.
Ao contrário do lado absurdamente estático
Reflexo da imagem do que fomos,

Pois um reflexo espelha o anterior,
Os instantes momentâneos do passado.
Não o sonho motor,
Nem as lágrimas escondidas do pecado.

10/06/13

Hoje é o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (por último mas não menos importante). Não costumo ter grandes manifestações de nacionalismo, ainda assim tenho imenso orgulho de ser portuguesa, fico f***** quando me perguntam se sou espanhola, mas hoje é um dia especial. É 10 de Junho, o dia de todos aqueles que são orgulhosamente portugueses (e dos que embora sem orgulho o sejam), habitualmente não celebrava este dia efusivamente, mas estou num contexto diferente, estou longe do meu país, longe da pátria que considero minha, longe das gentes que falam a língua que tanto amo. Celebrei o dia da forma que pude, com um belo café Delta, sendo as primeiras palavras do meu dia na nossa bela língua. Não me esqueço do que sou, nem de onde venho. Se há desejo que levarei até ao caixão é o de falecer em solo luso e falando a língua de Portugal, honrando Camões e todos os outros génios literários que fazem parte da minha essência. Desde sempre, e para sempre je suis fière d’être portugaise (e escrevi isto noutra língua para demonstrar que é possível viver naturalmente no meio de duas línguas sem esquecer as origens, basta ter vontade).

http://www.youtube.com/watch?v=ZDFMGq21h4g

05/06/13

Tudo o que de mim restar,
Ficará no túmulo da minha consciência.
As memórias, os segredos.
Somente algumas das minhas palavras vão perdurar.

As que ficaram presas nas folhas do tempo,
Aos fragmentos visíveis do que sou.
Do que fui, do que padeço,

Tudo o que sou e permaneço. 

03/06/13

Vamos juntos percorrer o caminho dos sonhos
Do outro lado da estrada da vida
A vida de cor e fantasia,
Demasiado irrisória para ser vivida

Caminhemos pelo lado da solidão,
Das cores escuras, do medo
E acredita que em breve chegaremos
Aos trilhos da felicidade sem preço

Deixemos os fracos caminhar pela luz
Enquanto caminhamos ao sabor do fado
Destino triste?

Não, este é o rumo jamais trilhado.

29/05/13

Resisti a muito

Esta nuvem de fumo que me contorna
Abrindo os horizontes do passado
Resisti a muito,
Permanecendo a navegar peço tempo de agora

Ao meu lado está algo frio
Inerte como a sombra que me perseguia
Resisti a muito,
Contudo vou seguindo nos passos do amanhã

O tempo vai caminhando a meu lado
Inundando-me com tudo o que passou
Resisti,
E sei que nada do que fiz foi errado

Limitei-me a perseguir a realidade
Expoente máximo do que quer que seja
Resisto à ignóbil sombra que me invade

 Porque não chamar a tudo isto felicidade?

10/05/13

Ser em estado puro

Nas noites cintilantes cujo céu violeta deste lugar me envolve, vou crescendo. Vou aprendendo a cada olhar a admirar este céu inigualável, diferente de todos aqueles que alguma vez tive hipótese de ver. Este tom confere-lhe uma mística incomparável, que poucos apreciam, vantagens de que o meu ócio beneficia. Será este o céu dos sonhos que nunca me consumiam, que pela sua imponência o intelecto não deixou apagar? Será talvez a distância a dizimar-me aos poucos, ou a habituação a tornar-se num vício embutido na pele. Creio que seja tudo isso e muito mais, possivelmente tratar-se-ão dos tons da descoberta, do renascimento para uma realidade até então escondida por detrás da máscara fixa ao meu rosto. Quem sabe se agora não esteja a ser em estado puro, a criar realidades improváveis, a existir na sua plenitude. Estarei diferente, mesmo não o aparentando, pois as revoluções sempre se iniciam mentalmente, e eu mudei. Mas o meu coração não deixou de ser o mesmo.

09/05/13

E vou escrevendo.

Escrevo em noites sem luar
Na penumbra dos meus pensamentos
Não por vergonha ou medo
Mas por crer que a minha forma de pensar
Reflecte tantas vezes o meu tormento

Em noites de lua cintilante
Rendo-me à contemplação de cada instante
Sofrimento, vício?
A lua somente revela o meu lado mais brilhante

Poderia descrever essas noites com mil e uma palavras
Porem a principal luta da minha existência
Pende-se entre deixar tudo na minha mente
Ou gravá-lo na posteridade do papel

São noites, dias, alguns minutos, tantas horas
Onde a fusão do raciocínio desabrocha numa folha
Instantes onde a transformação de passa interiormente
E vou escrevendo.

E vou escrevendo…

09/04/13

Cidade em Movimento

Este barulho ensurdecedor
Que me guia e não confunde
Concede-me o aval de criador,
e a vontade que a tantos ilude.

Sonhos seriam a perspectiva de muitos,
Contudo é a nua realidade que me constrói
Serás a criação de uma ilusão,
Ou dura sentença que te destruiu.

Procuro a luz onde estariam as sombras,
O silêncio numa cidade em movimento
Serás tu que me crias?
Serás algo que me perturbe?

22/03/13

Aquela rotina assassinava todos os dias daquela criança. Todos os dias iguais. Estáticos, como aquela melodia que lhe invadia os ouvidos ao acordar – o bip louco do despertador que a retirava atrozmente do mundo dos sonhos. Decidiu arriscar na diferença – deixar aquele despertador tocar para o vazio – e nem sequer ousou abrir os olhos. E ele tocou, durante uma hora, em intervalos passageiros de 10 minutos, até parar. E aí ela saiu triunfalmente da cama, ignorando o relógio, ignorando todo aquele tempo que a condicionava. Era um dos dias mais completos em termos de aulas, não a preocupou, tinha duas provas, nem quis saber. Só queria aproveitar a liberdade de um dia diferente, sem rotinas. Aproveitou aquele dia para fazer tudo o que não fazia – correr, sonhar, pensar. Sobretudo pensar. Porque os seus dias eram feitos de rotinas e não de pensamentos. E o despertador tocou, e na mente dela surgiam pensamentos. Em estado puro. Verdadeiros como ela.

Atelier de escrita, 22\03\2013, Université Paris-Sorbonne.

Muito obrigada meninos, por me ajudarem a quebrar o gelo da insegurança, e revelar a melhor parte de mim. LLCE Portugais toujours!

21/03/13

Há dias em que o sol invade a nossa mente, outros em que a penumbra brilha no nosso olhar, nenhum dia será igual ao outro. Não exigas de ninguém aquilo que nem mesmo tu sejas capaz de fazer, render-te ao cinismo fácil, a pré-formatação dos teus sentimentos. Não tens de ser o centro das atenções todos os dias, não tens de ser um poço cínico de simpatia, tens de ser tu próprio. Exige isso de ti, e de quem faz parte da tua vida, pode ser pouco, mas os teus dias ganham outra cor. - DH

12/03/13

One year later...

Não me saíste do pensamento, e duvido que alguma vez saías. Neste ano em que vivenciei as maiores conquistas da minha existência, estiveste mentalmente em todas as pequenas e grandes vitórias. Terminei triunfalmente uma das batalhas mais importantes para um aluno, o Secundário, e avancei em direcção a um novo rumo, a faculdade, num outro país, e não poderia estar mais feliz da minha decisão. Já passaram 6 meses desde que fechei a porta do meu paraíso português e embarquei rumo às terras da Gália. Arrepender-me? Nunca. Por mais difícil que tenha sido a adaptação, foi conseguida, e vai sendo construída ao longo dos dias que vão passando. Com ela aprendi a sentir o sabor da saudade em estado puro, aquela saudade tão amarga, mas tão portuguesa.  Um ano depois ainda sinto a tua falta, ainda sinto o choque de quando soube que não te voltaria a rever, ainda relembro todas as lágrimas que chorei, mesmo que aos olhos de outros tenham sido falsas, sem uma qualquer réstia de sentimento, mas posso afirmar que aquela que chorou diante de ti era a mesma pessoa que escreveu estas palavras, quiçá num estado mais puro, muito pouco racional. Sinto falta da tua presença, mesmo à distância, sinto falta da tua subtil preocupação de avó, que me fazia rir, que aos 12 dias do mês de Março de 2012 me fizeram chorar no silêncio de uma de muitas noites que passei em claro com a tua presença no meu cérebro consciente. Não julgues que me esqueci de ti, não julgues que deixou de doer ao falar de ti, que as lágrimas deixaram de cair. Sim, serás uma das poucas razões que me conseguem fazer chorar.  E vai continuar a fazer, pelo menos até está ferida de saudade deixar de doer. I miss you Gramma.

05/03/13

Eu nasci Portugal.

Julgo fazer parte desta geração que se crê sem nação. Onde abandonar a pátria-mãe em busca de uma nova oportunidade de vida está ao alcance de todos, contudo a vontade de partir ficou para alguns. Chamo-lhes bravos. Abandonei o meu país de sol e mar, com o desejo de um dia voltar e tentar saudar a dívida com a minha terra, a dívida de me criar, a dívida de me instruir, a dívida de me ter tornado “orgulhosamente lusa”. Gostaria somente de ter a chance de voltar ao local onde um dia nasci e ficar, não no fim do percurso dos anos que nos destruíram o corpo, mas enquanto tiver força de viver, sonhos a inundarem o meu espírito, conhecimento a rodear-me o intelecto. Nasci na pátria destinada a poucos e condenada por muitos, jamais me arrependerei de fazer parte daquela sociedade, mesmo que pequena, generosa demais e tão subserviente, nasci portuguesa, e deste país saí em busca de um novo mundo, no entanto espero um dia regressar e ver aquele meu cantinho quente e salgado marcar-me de novo a carne com os traços do seu fado, com o orgulho da nação da saudade. Fazes-me falta meu país, fazes-me falta Portugal.

13/02/13

Um alguém em conflito

Sou a real sombra destes passos
A geração espontânea de um sofrimento
Cresço a cada dia, e vou morrendo lentamente
Rendida a esta dor que me consome

O tempo gira em torno de um relógio frenético
Cronómetro desta sociedade despedaçada
Pela dormência vã e inócua
De essências sobrepostas por vulgares aparências

Mas no fim de contas quem eu sou?
Este ser que deambula no crepúsculo da existência,
Serei mais uma adepta desta melancolia arbitrária
Que ao negro cingiu o meu caminho?



Primeiro 18 do ano (a Expression Orale), primeiro "poema" de 2013.
Fim do hiato.