13/04/11

Dura forma de viver

Sinto dores por coisas irrelevantes
Por ser fraca ou por não ser
Conheço uma nova dor a cada instante
Desta minha dura forma de viver

Carrego a desdita do azar
Sufocada por ligeiros travos de sorte
Tenho por imposição de manter este ar
De quem deseja ferozmente a sua morte

No sentido de desaparecer
Não sendo indiferente à tristeza de quem ficaria
Simplesmente acho que não sou digna de viver
Com esta dor que aumenta a cada dia

Por mais igual que mostre ser
Aqui dentro bate algo flamejado de tristeza
Já nem sequer me consigo reconhecer
Só querendo que esta melancolia desapareça

Deixei de saber o que é viver
No momento em que esta colossal dor me atingiu
Perdi aquela força de não querer mais sofrer
Pus de lado a felicidade que se extinguiu

Filosofia do ataque

Quando a vida te soar dura
Ataca
Vais sentir-te envolvido numa neblina escura
Mas nunca demonstres parte fraca

Por vezes será um erro
A vítima não será a adequada
Cobrindo-te num manto de medo
Porque, por vezes atacamos a pessoa errada

É esta a minha filosofia
O meu estranho modo de agir e pensar
Magoo por erro em demasia
Não fazendo nunca esta filosofia cessar

Joga ao ataque para fugir à defesa
Embora sendo mais doloroso
Traz consigo aquela certeza
De que um ataque certo será proveitoso

10/04/11

Um novo adeus

Digo adeus desta vez
Aos sonhos que não passam de fantasia
Aqueles que escondia na timidez
De encarar o mundo com alegria

Faço uma vénia ao passado
Cumprimento com ar sarcástico o futuro
Fazendo parecer que o presente me passa ao lado
Imaginando tudo isto como um tiro no escuro

E vou dizendo adeus
Àquilo que nos atordoa
Que a modesta idade escondeu
Porque sabe o quanto nos magoa

Levanto a cabeça
Na ilusão de estar bem alto
Levo a que a minha mente se esqueça
Pois agora já nem vale a pena dar aquele salto

Este é o adeus final e derradeiro
Apesar de pensar que nunca chegaria
Talvez seja este o sonho verdadeiro
O de crer que esta fase se concluía

Fecho já com saudade a cortina
Daqueles sonhos que julgava serem meus
Dissipo as memórias numa doce neblina
E digo-lhes com certeza um suave adeus.

O único poema da minha autoria de que gostei realmente.
Não sei simplesmente porque.

Portugal

Localizado no extremo da Europa
Rodeado de mar e de rios navegáveis
Onde impera o fado e o grito de revolta
Devido a estas condições tão instáveis

Por aqui o futuro tornou-se incerto
Não revelando o que o amanhã nos trará
Vou assistindo a tudo tão de perto
Ao abismo a que esta politica nos levará

Estudar hoje é um dilema
Ficando nós alunos sem saber como pensar
Sem saber se vale a pena
Lutar para um melhor futuro alcançar

Quem não tem dinheiro
Não estuda porque não há necessidade
Ficando por concretizar o sonho verdadeiro
Pois ninguém vive do ar estando numa Universidade

Já nem a cultura lhes importa
Tal é a mentalidade capitalista
Agora que temos o FMI a tocar à porta
Talvez aquela mentalidade se revele realista

Perdeu-se também o sentido de uma revolução
Estamos todos apáticos e sem vontade
A riqueza nunca se revelou tanto uma ilusão
E todos os sonhos já estão esquecidos por necessidade.

07/04/11

"Por mais que na batalha se vença a um ou mais inimigos, a vitória sobre a si mesmo é a maior de todas as vitórias." Sakyamuni

Da Alexandra, a Dona Miguelinha, para mim.
Embora não tenha conseguido travar a batalha, vou fazendo renascer a vontade de me vencer.

Círculo vicioso

Por mais que queira que tudo seja diferente
Tentando sorrir em vez de chorar
Sabendo o quanto me dói estar presente
Só gostava deste círculo me libertar

Tudo converge para o mesmo ponto
Numa roda-viva de acontecimentos
Já nem de ser feliz me recordo
Vivo de facto presa a dolorosos momentos

Procuram testar a minha resistência
Até onde a minha força consegue tolerar
Não tentem ser a voz da minha consciência
Nem tentem impedir-me de fazer o meu tempo terminar

Chamem-me falsa, injusta e arrogante
Usem todas as armas que tenham para me derrotar
Isso para mim deixou de ser relevante
Aguardo sim pela doce hora de tombar

Na minha vida há um círculo vicioso
Onde a alegria leva sempre à tristeza
Em que o belo se torna tenebroso
E onde a partida se avizinha com mais clareza
Deixei de ver aquelas imagens
Só vejo dor e palavras amargas
Acabei com todas as minhas miragens
Rendida ao sofrimento desta vida que me mata

Sorrir deixou de me dar prazer
Chorar nem isso consigo
Mantenho a razão naquilo que me faz sofrer
Porque já nem oiço sequer aquilo que digo

A minha vida chegou a um plano paralelo
Onde nem os meus sonhos já me importam
Fujo agora daquilo que julgava belo
Corro para aquelas dores que me agarram

Será doença?
Será mais uma revolta da idade?
Para mim é só o tirar de uma beleza
Àquilo que nunca foi viver de verdade

Ser diferente, para quê?
Porque continuar errante e sem sentido
Alimentando a gula de quem a afundar me vê
Enquanto procuro algo mais que perdido.

Porquê?

Porque defendo quem mais me magoa?
Choro lágrimas de puro arrependimento
Mas por mais que saiba que tudo me magoa
Só paro para pensar depois do sofrimento

Aquela que esteve sempre comigo
Mesmo quando a revolta movia as minhas acções
Viro as costas a quem sempre chamei de amigo
Aquela que sempre me deu a mão em todas as ocasiões

Por mais lágrimas que agora me caiam
Este sofrimento latente não se afasta
Altera o sentimento dos que sempre lá estavam
Aumentando esta dor que me mata

Porque já não valem a pena mais palavras
Só o meu isolamento definitivo
Apesar de agora sentir que a vida me ajudava
Perdeu novamente o glorioso sentido

06/04/11

Rir-nos de nós próprios

Como não o podemos fazer? Se não nos rirmos como é que vamos manter as forças e a vontade de abrir os olhos todos os dias, mesmo que seja simplesmente para estimular este prazer de rir que vou possuindo. Gosto principalmente de me rir das coisas que fiz anteriormente por piores para a minha saúde que tenham sido, e algumas das coisas que fiz quando era apenas uma criança, não que já tenha deixado de o ser, que sou uma criança, daquelas bem irritantes, por vezes. Passando em revista o período da minha vida situado entre os 3 e os 6 anos, recordo-me de uma série de acontecimentos que me fazem soltar gargalhadas extremamente audíveis e irritantes, porque o meu riso é irritante, principalmente se for duradouro e eu começar a asfixiar, como durante uns tempos me divertia a trepar as paredes da minha casa, em espargata, quando tinha a brilhante ideia de introduzir dentro das tomadas objectos estranhos, neste caso as agulhas do tricô da minha avó, quando ela ainda estava presente, e ficava agarrada a elas, enquanto era electrocutada, era fantástico. Também me começo a rir quando me recordo que gostava de brincar com fósforos, e que ia incendiando a minha própria casa, tinha a perversa mania de engolir moedas, por puro vício, brincar com cal, com lixívia e de me esconder nos armários para que a minha mãe me procurasse. Também gosto de me rir dos meus hábitos de infância, de quando escrevia e comia com a minha mão esquerda, por motivos desconhecidos, e que simplesmente para imitar os adultos e não me sentir diferente passei a escrever totalmente com a mão direita, com medo de ser criticada, e de me sentir diferente, como acabo por ser, por fora e por dentro. Com isto rio de mim, vou mantendo a vontade de viver e de me rir de mim, de rir dos outros. Simplesmente mantenho a vontade de me rir.

04/04/11

Guerreiros

Os guerreiros também fraquejam, também agonizam de dor quando a vida não lhes corre da maneira como esperavam, embora tentem sempre manter aquela pose de lutadores, mas como tudo na vida as forças falham, tudo falha, infelizmente para nós. Gosto de quem sabe ser guerreiro, de quem luta arduamente por ser diferente e de quem é guerreiro mesmo quando a maior das dores o atinge. Sucumbem por eles, pelos erros que cometem e pelos outros, que os julgam pelas falhas e os criticam por algo que não devia ser criticado. Como compreendo os guerreiros sofredores, porque apesar de não ter nada de guerreira ou de lutadora, faço um esforço considerável para me manter em cima desta superfície repleta de fissuras e falhas a que chamam terra. Conheço uns quantos guerreiros, no sentido genuíno da palavra, gosto particularmente dos guerreiros de circunstância, talvez por ser um exemplar dessa espécie. Porque admito que por vezes dá um jeito danado ser guerreira, lutar por algo que valha de facto a pena, coisa rara para mim, pois encontrar motivos para continuar a caminhar neste planeta torna-se, cada dia que passa, uma das mais complexas tarefas, para felicidade de muitos seres que vagueiam por ai. Admiro os guerreiros, admiro a sua força e a sua persistência em lutar, mesmo que a vida lhes negue tudo aquilo que ambicionam, são grandes e diferentes por isso, e eu valorizo a diferença e o que é único, pois a igualdade não me causa qualquer tipo de interesse.

02/04/11

"Nunca sejas um objecto de ninguém. Nunca imites o pai nesse aspecto. Não te deixes manipular por um estranho, sê sempre assim." - Luís Hilário

Só por ser de quem é, já vale tudo.
Desfolho as páginas da história que escrevi, daquele livro que guardo na gaveta e que praticamente ninguém lerá, só quem for digno de conhecer a minha história, por possuir aquele mérito que só os mais verdadeiros e leais possuem. Cada folha conta uma história carregada com os sentimentos que lhe quis dar, porque é a minha escrita, as minhas por vezes duras palavras. Escondo esta história do mundo, não por medo mas por vergonha. Vergonha da escrita, da articulação e da pessoa que incessantemente escreve aquelas palavras durante esta frenética jornada que é a vida, que se terminasse agora, terminaria incompleta, mas verdadeiramente triunfante. Deixaria a minha marca naquele que me entraram na vida, e que sem dúvida teriam a sua página nesta narrativa, que tento escrever diariamente. Permanece imóvel no papel, soltam-se fragmentos que um cérebro astuto junta e concentra para tentar manter o sentido. São meras palavras, sem qualquer tipo de brilho ou coerência, mas que são minhas e apesar de as esconder, de não gostar delas são o meu mais real reflexo. Sou eu, é a minha história. Que ficaria mal contada se não fossem estas palavras a conta-la.